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Tradição, ritmo e resistência cultural

COART um espaço de memórias e identidade

Por Samira Santos

A segunda edição do seminário Samba Vivências trouxe, entre os dias 4 e 6 de novembro, no Auditório Cartola, a energia e a riqueza cultural do Carnaval carioca. O evento promoveu encontros com grandes figuras do samba, de baluartes a ritmistas e rainhas de bateria, abrindo espaço para compartilhar histórias e reflexões sobre o papel dessas personalidades na preservação e valorização de uma das manifestações culturais mais icônicas do país.

Lembranças e Reflexões

Na noite de abertura, no dia 4 de novembro, a mesa foi composta por três ícones do samba: Dona Célia Domingues (Diretora de Projetos da Mangueira do Amanhã e Vice-presidente da Associação Brasileira de Artes carnavalescas), Jeronymo Patrocínio (Ex mestre-sala e baluarte da Portela) e Selminha Sorriso (Porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis e diretora do Departamento Cultural da Escola). Cada um trouxe suas vivências, revelando ao público um pouco de sua trajetória e da relação profunda com o samba. Para o organizador do evento, Thiago Mendes, o seminário não apenas enriqueceu o público com histórias, mas reforçou o valor das figuras que ajudam a construir e preservar essa história. Mendes, ele próprio um apaixonado pelo samba desde a infância, reforçou que o espaço do Auditório Cartola foi escolhido a dedo. “Fazer este evento no Mês da Consciência Negra, em um local que leva o nome de um dos maiores nomes do samba, é muito significativo”, comentou.

Evento Samba Vivências (Foto: Samira Santos)

No segundo dia do seminário, a noite foi dedicada aos ritmistas, que, como ressaltado por Thiago, são o coração de uma escola de samba. A mesa contou com Darllan Nascimento, mestre de bateria da Unidos da Ponte e diretor de bateria do Salgueiro; Laísa Lima, mestra de bateria do Leão de Nova Iguaçu e diretora de bateria da Beija-Flor; e Thalita Santos, diretora de bateria da Vila Isabel.

No encerramento, o Samba Vivências trouxe as rainhas de bateria Andressa Marinho (Unidos de Padre Miguel), Lorena Raissa (Beija-Flor de Nilópolis), Maria Mariá (Imperatriz Leopoldinense) e Mayara Lima (Paraíso do Tuiuti). Com suas histórias e desafios, elas mostraram o papel inspirador e simbólico que as rainhas representam nas escolas de samba.

Para Thiago Mendes, o evento reflete o que é o samba: uma manifestação de amor, história e resistência. Fundador do projeto Samba Vivências, ele acredita que o espaço de diálogo e aprendizado que o seminário oferece é fundamental para garantir que as próximas gerações possam se conectar com a essência do samba.

Mês da Consciência Negra

A programação do Mês da Consciência Negra seguiu essa semana na COART reafirmando a importância das ações artístico-culturais pretas no Brasil. A apresentação do monólogo “João Cândido: Herói do Povo!”, interpretado por José Araújo, aconteceu no Auditório Cartola, na última quinta-feira (7). O espetáculo trouxe à cena a história de João Cândido, o “Almirante Negro”. A peça, que já foi apresentada no MA Bech Film Festival, no Maranhão, emocionou o público ao narrar a luta de Cândido contra os abusos sofridos pelos marinheiros. Com textos de Clóvis Corrêa e Alexandre Morcillo, Araújo destacou que o monólogo não só é uma homenagem, mas um ato de resistência: “Levar a história de João Cândido é lembrar as lutas que nos trouxeram até aqui”.

Evento o monólogo “João Cândido: Herói do Povo!” (Foto: Samira Santos)

Em entrevista, Araújo falou sobre sua carreira, marcada por décadas de dedicação ao teatro e à música. Ele, que completa 80 anos de vida e 50 de carreira neste ano, vê no monólogo uma forma de educar as novas gerações sobre figuras históricas que, por muito tempo, foram negligenciadas nos registros oficiais. “O teatro não só me transformou, mas me permitiu conhecer a história do Brasil e também nossa herança africana. O teatro é uma escola que nos leva a refletir e a encontrar nossa identidade”, afirmou o professor. Ele descreveu João Cândido como um “herói e ousado”, destacando o papel de um homem que, ao lado de seus companheiros, enfrentou o governo em defesa de melhores condições de vida e respeito. “Ele veio com uma missão. Não é à toa que ele fez o que fez”.

Essas celebrações culturais reforçam o papel do samba, da música e do teatro como importantes instrumentos de educação, resistência e inclusão. Em tempos de mudanças sociais esses encontros proporcionam não apenas entretenimento, mas uma reconexão com a história e com a identidade cultural do Brasil.

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