Da crise do trabalho à harmonia das cordas: encontro de linguagens na COART

A semana na COART com cinema, música clássica e animação

Por Samira Santos

A COART abriu a semana de 1º a 3 de outubro com uma diversificada programação cultural. Com entrada gratuita, os eventos transitaram entre o cinema brasileiro contemporâneo, a música erudita e o karaokê.

O terror do cotidiano em Trabalhar Cansa

O dia 1º de outubro foi dedicado à exibição de um dos marcos do cinema nacional recente: o longa Trabalhar Cansa (2011), dirigido pela dupla Juliana Rojas e Marco Dutra. Com o apoio da produtora Dezenove Som e Imagens, a sessão no Auditório Cartola fez o público mergulhar em um drama social com pinceladas de terror e realismo fantástico.

A obra de Juliana Rojas e Marco Dutra é conhecida por sua habilidade em fundir o ordinário com o fantástico, e Trabalhar Cansa é um exemplo disso. A sinopse já anuncia a tensão: Helena, uma dona de casa (vivida por Helena Albergaria), decide abrir um minimercado para complementar a renda familiar, mas a situação familiar decai quando seu marido, Otávio (Marat Descartes), perde o emprego. O pequeno comércio, batizado de Curumim, torna-se o palco central de estranhos e perturbadores acontecimentos que, corroem não apenas a estabilidade financeira, mas a relação do casal e o convívio com a nova empregada doméstica, Paula (Naloana Lima). Um drama familiar com o amargo sabor do cotidiano.

Diálogos musicais com a OSB Jovem

Na quinta, 2 de outubro, o salão 2 recebeu o Quarteto de Cordas da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem (OSB Jovem) para um Concerto de Câmara Especial, parte do projeto Diálogos Musicais, fruto de uma colaboração valiosa entre a Uerj e a OSB Jovem.

Apresentação da OSB Jovem no salão 2 (Foto: Equipe COART)

O público, em sua maioria, composto por estudantes e amantes da música, teve a oportunidade de não apenas apreciar a performance do Quarteto de Cordas, mas também de receber comentários e insights sobre diversos aspectos pertinentes às composições e arranjos apresentados. 

O Karaokê do Animaletras

Encerrando a semana com energia, a sexta-feira, 3 de outubro, foi marcada por um encontro especial promovido pelo projeto Animaletras, no Salão 2 da COART. A proposta do Animaletras vai “além do cinema”, convidando o público a mergulhar nas animações sob uma perspectiva interdisciplinar. No evento todos tiveram a oportunidade de soltar a voz e mostrar seu conhecimento musical.

Servidor Marcelo Baère arrasando no karaokê (Foto: Victor Soares)

Longe da crítica tradicional que apenas avalia a técnica ou a narrativa, o projeto Animaletras, que pode ser seguido no Instagram (@animaletrasuerj), propõe debater a linguagem e os temas profundos presentes nas animações. Essas produções, muitas vezes vistas como entretenimento exclusivamente infantil, são ricas em simbologias, questões sociais, literárias e filosóficas.

Victor Soares, membro fundador do Animaletras e estudante de Letras – inglês/literatura, reforça essa visão, destacando o papel da animação na vida adulta. “Existe uma ideia equivocada de que precisamos deixar para trás aquilo que assistimos na infância. No entanto, não há nada de errado em gostar de animações sendo adulto. O Animaokê foi a prova disso: uma noite que celebrou a animação como forma de arte, memória afetiva e expressão coletiva.”

Estudante da Uerj cantando no salão 2 (Foto: Victor Soares)

Para celebrar o universo musical que é intrínseco à animação, o evento do Animaletras foi um super Karaokê, que faz parte do projeto Esquenta na COART. O repertório prometido foi um acervo de clássicos e ícones que atravessam gerações, desde a nostalgia das aberturas de desenhos como Pokémon até os hits mais recentes, como Livre Estou, de Frozen. O Salão 2 se transformou em um palco aberto, onde a comunidade Uerj e o público externo puderam soltar a voz e vivenciar a alegria contagiante que a música das animações proporciona.

Victor descreve a experiência com entusiasmo: “O evento do Animaletras em parceria com a COART foi uma experiência muito divertida. Foi sobre criar um espaço de encontro, onde pessoas interessadas por animação pudessem estar juntas, conversar e celebrar. Eu vi naquela noite uma comunidade sendo fortalecida.”

Equipe fundadora do Animaletras (Foto: Victor Soares)

Em relação à organização, Victor fez questão de lembrar que o sucesso é resultado de um esforço coletivo: “O Animaokê só foi possível graças ao trabalho coletivo de muitas pessoas. Além de mim, a organização contou com a participação essencial de Bruna Faria, Danny Zurc, Filippe Vitor e Marcelo Baère.”

Com a sensação de dever cumprido, um dos fundadores do projeto espera que a iniciativa continue: “Ver as pessoas felizes cantando, em português ou não, e vibrando pelos amigos a cada música é o que faz tudo valer à pena. Com o sucesso dessa edição, espero que o Animaokê volte a acontecer outras vezes na COART. Eu senti que todos ficaram com um gosto de quero mais.”

Os eventos, realizados no Centro Cultural, reforçam o papel da universidade pública não apenas na produção de conhecimento, mas na difusão da cultura. O acesso livre e a curadoria diversificada de cinema, música e debate interdisciplinar são um convite contínuo à participação da comunidade e a COART segue com sua missão de ser um espaço vibrante para todas as artes, promovendo o encontro entre a reflexão acadêmica e o prazer da arte.

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