a semana em que a COART se transformou em palco de conexões
Por Samira Santos
Na semana de 11 a 15 de agosto, os corredores e espaços da COART pulsaram em sintonia com o encontro entre a criação artística e a celebração coletiva. De um lado, a delicadeza e profundidade do trabalho da artista Karla Biery em evento no bosque, de outro, a explosão de alegria de um karaokê no evento da semana do Esquenta que levou mais de cem pessoas a soltar a voz e compartilhar risos, aplausos e cumplicidade. Se a proposta do projeto Esquenta na COART é aquecer a comunidade com encontros culturais, a missão foi cumprida com intensidade.

Oficina de Karla Biery no Bosque do Campus Maracanã (Foto: Samira Santos)
A arte como linguagem do invisível
Na tarde de quinta-feira, 14 de agosto, o Bosque do Campus Maracanã ganhou uma atmosfera de suspensão do tempo. Os participantes, reunidos em roda, foram convidados por Karla Biery a experimentar o fio e o gesto como forma de expressão. A artista visual norte-americana, de Chicago, trouxe para a COART não apenas sua bagagem técnica no crochê e em práticas manuais, mas também uma filosofia que transforma a experiência artística em um exercício de escuta e conexão.

Momentos de desenho e arte com crochê durante a oficina (Foto: Samira Santos)
“A arte pode ajudar a gente a se entender sem falar”, disse Karla. A frase ecoou entre os presentes como uma síntese daquilo que se vivia ali: o poder do gesto simples, laçar um fio, esticar um ponto, como caminho de encontro. Em um mundo atravessado pela velocidade e pelo ruído, a proposta de se conectar silenciosamente com os outros, por meio da arte, adquiriu força quase ritual.
Ao longo do ano de 2025, Karla permanecerá na Uerj em residência artística, investigando como as relações humanas refletem a lógica da natureza. Sua pesquisa, premiada pela Fulbright Grant, prevê a criação de uma escultura pública em diálogo com a comunidade acadêmica e as vizinhanças do entorno. Cada oficina, portanto, é um ensaio vivo dessa obra maior, um laboratório de conexões onde os participantes não precisam trazer nada além de si mesmos e de uma mente aberta.
A noite em que o público roubou a cena
Se a tarde de quinta-feira foi marcada pelo silêncio da arte, a sexta-feira, 15 de agosto, trouxe o oposto: vozes, risadas e uma energia coletiva que transformou o Salão 2 da COART em palco de pura celebração. O karaokê aberto, anunciado com o título bem-humorado “Noite de Kara, okê?”, foi o grande sucesso da semana.
Mais de cem pessoas compareceram, enchendo o espaço de expectativa e animação. As inscrições para cantar abriram às 18h, mas antes mesmo da lista circular, já havia fila de interessados. Quando as primeiras vozes ecoaram pelos alto-falantes, o salão se converteu em uma espécie de clube efêmero, onde desconhecidos se tornaram cúmplices de refrões conhecidos.
O repertório foi variado: de clássicos da música brasileira a sucessos internacionais, passando por baladas românticas, hits dos anos 2000 e até canções que arrancaram gargalhadas pela performance caricata dos intérpretes. Ali, a afinação era o que menos importava. O que contava era a entrega, o entusiasmo e, principalmente, a capacidade de transformar vergonha em coragem compartilhada.
A origem do karaokê foi lembrada no material de divulgação do evento: a palavra vem da junção de kara (“vazio”) e okê (abreviação de orquestra), significando “orquestra vazia”. Criado no Japão nos anos 1970, o formato se espalhou rapidamente pelo mundo, tornando-se sinônimo de encontros espontâneos, risadas e momentos inesquecíveis.

Forró na COART com o Xodó Uerj (Foto: Samira Santos)
Na sexta-feira, 22 de agosto, o Salão 2 da COART se encheu do ritmo contagiante do forró com o grupo Ilumixote. Antes do baile, o público foi convidado a participar de uma aula gratuita de dança conduzida pelo projeto Xodó Uerj, que ensinou passos básicos e incentivou até os mais tímidos a se arriscarem na pista.
Na COART, essa tradição encontrou terreno fértil. A proposta do Esquenta é justamente oferecer uma programação eclética, que acolha desde experiências contemplativas até explosões de descontração. O karaokê provou que a música, assim como a arte proposta por Karla, também pode ser ponte entre pessoas. Não é preciso ser cantor profissional para brilhar: basta coragem e disposição para partilhar um momento coletivo.
Uma mesma sintonia
O contraste entre a oficina silenciosa de Karla e a noite barulhenta do karaokê não é uma contradição, mas sim o retrato da pluralidade cultural da COART. De um lado, a artista que propõe o fio como metáfora da interdependência entre seres humanos, de outro, a plateia que se transforma em coro improvisado, apoiando cada voz que sobe ao palco. Além disso, o balanço no forró unindo as pessoas pela música deixa evidente esse serviço da COART como Centro Cultural da universidade.
Nos dois casos, a mensagem é a mesma: conexão. Seja pela delicadeza de um ponto tecido em conjunto, seja pela vibração de um refrão cantado em uníssono, o que permanece é o sentimento de pertencimento.
Em tempos em que a cultura disputa espaço com a pressa da vida cotidiana, a COART reafirma seu papel como polo de encontro e criação. Receber uma artista internacional premiada, capaz de propor reflexões profundas, e ao mesmo tempo abrir espaço para um karaokê que mobiliza a comunidade, revela a força de um projeto cultural que não se limita a nichos.
Na soma desses momentos, a conclusão é inevitável: quando a arte e a cultura se encontram em espaços de acolhimento, criam-se memórias que ultrapassam o evento em si. Elas se costuram na vida das pessoas como fios invisíveis ou como canções que insistem em ficar na ponta da língua.
E assim, entre pontos de crochê e notas musicais, a COART celebrou uma semana inesquecível e mostrou que, mais do que um espaço, é um organismo vivo de encontros, pronto para continuar surpreendendo a cada novo Esquenta.