COART celebra arte, resistência e consciência negra em uma quinzena de eventos

Por Samira Santos

Nos últimos 15 dias, a COART se tornou palco de uma série de eventos culturais e debates que exaltaram a luta, a arte e a ancestralidade do povo preto. A programação especial marcou o Mês da Consciência Negra, reunindo cineastas, artistas, professores e a comunidade em atividades que combinam reflexão, celebração e resistência.

“Diga Meu Nome” e o protagonismo trans na tela

No dia 11, a exibição do filme Diga Meu Nome emocionou o público ao contar a história de Diana e Selem, duas mulheres negras e transexuais que enfrentam as dificuldades no Rio de Janeiro. A produção aborda temas como o reconhecimento do nome social e o direito de usar o banheiro feminino, expondo as barreiras enfrentadas pela população trans.

Debate sobre o filme Diga meu nome (Foto: Samira Santos)

Após a sessão, a diretora Juliana Chagas e as protagonistas Diana Conrado e Selem Soares participaram de um debate. Selem, que também deu vida à sua própria história no filme, compartilhou o impacto transformador de atuar. “Atuar é ser verdadeira. No filme, eu quis passar minha realidade sem máscaras, para mostrar quem eu realmente sou”, relatou. O evento evidenciou o poder da arte como veículo de voz e visibilidade para minorias marginalizadas.

INARRA e as Narrativas Visuais

No dia 12, a COART, em parceria com o Grupo INARRA, apresentou dois documentários de Beto Novaes: As Varredeiras e O Diagnóstico. O primeiro retrata o cotidiano das mulheres varredeiras em Piracicaba (SP), enquanto o segundo denuncia os impactos dos agrotóxicos na saúde de trabalhadores do fumo no Paraná.

Debate com Beto Novaes (Foto: Samira Santos)

O debate, conduzido pelo próprio Beto Novaes e pela pesquisadora Clarice Peixoto destacou a relevância da antropologia visual como ferramenta de reflexão crítica. Para Novaes, transformar pesquisas acadêmicas em documentários é essencial. “As imagens têm o poder de nos reconectar com o que fazemos. É um convite à reflexão que o cotidiano acelerado nos rouba”, afirmou. Clarice Peixoto, fundadora do INARRA, celebrou os 30 anos do grupo, enfatizando a importância das narrativas visuais para documentar e preservar memórias sociais. “Incorporamos novas narrativas, como desenhos e fotografias digitais, mostrando que a antropologia é viva e em constante transformação” , contou.

Circuito Cultural e Celebração da Consciência Negra

No dia 14, o evento Curto-Circuito transformou a COART em um espaço dinâmico de música e dança com apresentações centradas na temática da Consciência Negra explorando a ancestralidade e a resistência do povo preto. 

Com uma programação vibrante, o dia foi marcado pela arte do grupo Batikum, que trouxe os saberes do jongo, capoeira e samba de roda em um repertório autoral; da aula-baile de Mayara Assis, exaltando o funk como expressão cultural das periferias negras; do duo Veludo da Mariposa, que uniu sonoridades do norte do Brasil à música contemporânea; e da performance emocionante de Cleiton Sobreira, que homenageou o legado ancestral por meio da dança afro-brasileira.

Performance do dançarino Cleiton Sobreira (Foto: Camila Valladares)

O dançarino e professor Cleiton Sobreira fez uma apresentação que misturou dança afro-brasileira e narrativas dos orixás. “A dança é minha conexão com minha ancestralidade e minha comunidade. É um momento de celebração da realeza preta”, disse Cleiton.

Artistas do evento Curto Circuito (Foto: Samira Santos)

Capoeira Angola: Tradição e Resistência

No dia 22, aconteceu uma série de atividades em parceria com o grupo NGOMA. A noite começou com a exibição dos filmes O Jucá da Volta (de 2014, com direção de Nêgo Bispo e Júnia Torres) e Confluências-Antônio Bispo (de 2020, Morro Produções).

Roda de Capoeira (Foto: Rafa Éis)

O evento culminou em um treino aberto de capoeira Angola, conduzido pelo Mestre Coqueiro, seguidos de um bate-papo com Mona Lima sobre ancestralidade e o legado do mestre Nêgo Bispo. Rafa Éis, orientador das oficinas de artes visuais da COART e praticante de capoeira, destacou o significado profundo da arte: “A capoeira é uma forma de reconexão com a cultura da diáspora africana. É uma das maiores formas de resistência do povo preto.”

Arte e Comunidade

A programação da COART evidenciou a importância da arte como instrumento de resistência e transformação social. O público não apenas assistiu às apresentações, mas foi convidado a refletir sobre questões urgentes, como racismo, direitos sociais e valorização da identidade negra.

Tatiana Macedo, moradora de Vila Isabel e frequentadora assídua dos eventos, elogiou a iniciativa: “Senti muita ancestralidade e cuidado em cada apresentação. A arte tem o poder de nos libertar e nos reconectar com nossa história.”

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