Cine Cartola 2025.2 conta com reflexões sobre o trabalho no cinema brasileiro

Por Samira Santos

Alguns filósofos como Pierre Bourdieu consideram que o cinema é um espelho da sociedade, e o Cine Cartola neste semestre, convida o público a um mergulho profundo nas relações de trabalho no Brasil. Com o tema “Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar”, a curadoria de Caio Neves e Quesia Pacheco selecionou uma mostra de filmes que explora as nuances do mundo profissional, da informalidade à exploração, da rotina à busca por sonhos. A programação, que acontece às quartas-feiras, entre setembro e novembro, traz títulos aclamados e debates enriquecedores.

Destaques da programação

A temporada começou no dia 3 de setembro com “Marcos” (2023), longa que transita entre ficção e documentário para abordar a vida de um jovem com discalculia, que é um transtorno que afeta a aprendizagem e o desempenho em matemática e ele luta por sua autonomia. A sessão terá um debate especial com o diretor Filipe Codeço e o protagonista Marcos Codeço. “É um filme que aborda a maneira como uma pessoa com discalculia se insere nesse mundo que é absolutamente utilitário, que a gente tem que lidar com as coisas da ordem da vida prática”, explica Caio Neves, um dos curadores.

Cena do filme “Marcos” do diretor Filipe Codeço (Foto: Reprodução)

Outros filmes na lista incluem o clássico “Que Horas Ela Volta?” (2015), que retrata as tensões da relação entre empregada doméstica e patroa, e “Trabalhar Cansa” (2011), um suspense que, na visão de Caio, usa o terror para “assombrar” a protagonista com o neoliberalismo e as dinâmicas do mercado de trabalho. “É um filme alegórico porque é mal-assombrado não necessariamente por algo do campo do fantasioso, mas é mal-assombrado pela dinâmica que a gente está inserido”, conta.

A mostra também apresenta filmes que abordam a escravidão contemporânea, como o documentário “Servidão” (2024), e a realidade dos trabalhadores informais e marginalizados em “Arábia” (2017). A programação inclui ainda “Mormaço” (2019), uma ficção sobre as remoções da Vila Autódromo, com um debate com a diretora Marina Meliande, e “Marte Um” (2022), que explora os sonhos de uma família negra da periferia.

Filme “Que horas ela volta?” com a atriz Regina Casé

Em entrevista, Caio Neves, orientador da área de cinema, ressaltou a importância das discussões que acompanham as sessões. “Eu acho que as sessões que vão ter conversa vão ser muito legais”, afirmou, destacando o debate após a exibição de “Marcos” e “Mormaço”. Ele também mencionou o filme “Transeunte” (2010), que retrata a vida de um aposentado, mostrando que o projeto busca explorar o campo do trabalho em suas diferentes etapas e nuances. “Cada filme conta alguma coisa sobre o mundo do trabalho no Brasil hoje”, conclui.

O Cine Cartola reforça seu papel de promover o cinema como ferramenta de reflexão e debate, oferecendo uma oportunidade para o público se conectar com o cinema brasileiro.

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