Por Samira Santos
Ao longo do ano de 2025, a COART tem o prazer de receber a artista visual Karla Biery, de Chicago (Illinois, EUA), para uma residência artística que promete conectar a comunidade acadêmica e o público em geral através de experimentações com crochê e arte pública. Com um projeto premiado pela Fulbright Grant em abril de 2024, Karla traz ao Brasil uma abordagem única que explora as relações humanas e sua interconexão com a natureza.
Graduada em 2023 pelo Mount Holyoke College em Teoria Social Crítica, Karla se define como uma artista interdisciplinar que utiliza o crochê como ferramenta para investigar e materializar conceitos abstratos como empatia, pertencimento e conexão. Em sua trajetória, a artista vem aprofundando a ideia dos “fios invisíveis” que ligam todos os seres e que, em suas palavras, estão presentes “nas interações mais simples e podem ser um lembrete de esperança”.
Ao longo da residência, Karla irá se integrar às ações educativas e culturais da COART, envolvendo a comunidade em práticas artísticas colaborativas que irão culminar na criação de uma escultura em espaço público. A artista destaca a importância de enxergar a interconexão como algo essencial para o entendimento de nossa existência coletiva.
“Para mim, o crochê é uma maneira tão direta de tornar visíveis as conexões entre as pessoas e a natureza, porque o crochê é conexão. Cada laço e nó se entrelaçam, segurando-se uns aos outros e fortalecendo-se mutuamente. Isso é realmente impressionante e bonito para mim.”
A arte do crochê como metáfora de conexões invisíveis
A escolha do crochê como meio de expressão não é aleatória. Karla utiliza essa técnica manual, tradicionalmente associada ao cuidado e à paciência, como uma linguagem artística para discutir temas profundos como a interconexão e a relação entre humanos. Ao manipular fios e transformá-los em formas tridimensionais, a artista traduz visualmente conceitos intangíveis, criando esculturas que revelam, de forma poética, os laços invisíveis que nos unem.
“Para estar em comunidade e ter relacionamentos positivos, precisamos cuidar uns dos outros, e muito. Não é fácil cuidar profundamente das pessoas. Para mim, o crochê reflete esse tipo de cuidado porque é repetitivo, leva muito tempo e exige muita paciência, mas cria algo que pode proporcionar conforto, como roupas e cobertores.”
Intercâmbio cultural: Chicago e Rio de Janeiro em diálogo
A vinda de Karla Biery ao Brasil também abre espaço para um rico intercâmbio cultural entre Chicago e o Rio de Janeiro. Para a artista, a troca com diferentes contextos sociais e culturais é um elemento fundamental em sua prática artística. Ao mergulhar na dinâmica da COART, ela espera não apenas compartilhar suas perspectivas, mas também absorver novas influências e experiências que irão ressoar em sua obra.
“Estou realmente empolgada para começar a usar mais materiais naturais que encontro aqui, em meu trabalho. Tenho grandes planos para colher algas! Também gostaria de explorar instalações de vídeo e som que venham da paisagem natural do Rio.”
A escultura em espaço público: arte que convida à reflexão coletiva
Um dos pontos centrais da residência será a criação de uma escultura em espaço público, concebida de forma colaborativa. Por meio de oficinas e experimentações abertas à comunidade, Karla pretende investigar as formas como o crochê pode se expandir para além do campo têxtil, ocupando o ambiente urbano e gerando novas formas de interação.
“Tenho algumas ideias. Uma delas é uma enorme escultura de crochê no centro, suspensa. Outra é algumas instalações públicas diferentes ao redor do campus – há áreas de árvores realmente bonitas que eu adoraria explorar. Também quero organizar workshops somáticos e que abram o coração, além de experimentar biomateriais como algas para criar novas formas.”
A proposta de Karla é que a escultura não apenas ocupe fisicamente um espaço, mas também funcione como um convite para que os espectadores reflitam sobre suas próprias conexões e pertencimento. A participação da comunidade não será apenas simbólica, mas efetiva – os participantes das oficinas terão a oportunidade de contribuir diretamente na construção da obra, criando um verdadeiro mosaico de experiências compartilhadas.
“Minha arte muda muito, dependendo de onde estou, de quem encontro e das novas ideias que me inspiram. Antes de poder responder realmente a essa pergunta, preciso passar mais tempo na COART para entender minha função lá. Mas posso dizer que estou empolgada para conversar e trabalhar junto com a comunidade.”
O papel da arte pública em estreitar laços sociais
Para Karla, a arte pública desempenha um papel crucial na criação de diálogos e na promoção de uma sensação ampliada de comunidade. Em tempos de crescente fragmentação social, projetos como o da artista oferecem um contraponto, enfatizando a importância de reconhecer e valorizar as conexões invisíveis que sustentam nossas vidas.
“Acredito que a arte pública é uma espécie de ponte entre as pessoas. Se uma obra de arte pode impedir alguém de correr para onde quer que esteja indo, ela cria um portal para uma realidade diferente, onde há mais espaço para a magia!”
Além disso, a artista espera que sua escultura provoque um engajamento sensorial e emocional. Mais do que um objeto estático, a obra será um convite para a interação, permitindo que cada observador encontre seu próprio significado e perceba, de maneira sutil, a teia invisível que nos liga.
“Quero que as pessoas sintam que estão sendo atraídas por ela como se fosse uma força magnética. Quero que a escultura perturbe as rotinas diárias e permita espaço para a surpresa em suas vidas.”
Conselhos para artistas emergentes
Ao compartilhar sua jornada, Karla também deseja inspirar outros artistas a explorarem técnicas manuais e temas relacionados à interconexão em suas práticas. Sua trajetória evidencia como o diálogo entre tradição e inovação pode abrir novos caminhos para a expressão artística e a reflexão social.
“Trabalhe duro para atingir seus objetivos. Não deixe que as opiniões dos outros o impeçam. Seja sempre gentil. Escreva em um diário todos os dias. Se quiser fazer arte sobre conexão, conecte-se com as pessoas! Lembre-se de que a mudança é a única constante e que precisamos estar em harmonia com os fluxos e refluxos da vida.”
Acompanhe a residência de Karla Biery na COART
Para acompanhar as atualizações da residência artística de Karla Biery, fique atento às redes sociais da COART (@coartuerj) e ao perfil oficial da artista no Instagram: @barleywor1d.
Ao longo de 2025, a COART se consolida, mais uma vez, como um espaço de encontro entre arte, educação e comunidade – e a chegada de Karla Biery promete ampliar esse diálogo, tecendo novas conexões que permanecerão muito além do tempo de sua estadia.