30 anos do Centro Cultural da Uerj mais que um espaço um território de memórias
Por Samira Santos
A COART celebra três décadas de existência neste ano. Localizada no campus Maracanã, a COART se consolidou como o principal espaço de difusão cultural da Uerj, cumprindo um papel semelhante ao de grandes instituições como o CCBB, mas com a cara e o coração da zona norte. Mais que um espaço físico, o Centro Cultural tornou-se um território de memória, resistência e experimentação, que ao longo de sua história aproximou a universidade da cidade e deu protagonismo a vozes muitas vezes invisibilizadas.

Discurso da Sub Reitora da Uerj Ana Maria Santiago durante o lançamento da Revista ComArt (Foto: Equipe COART)
O prédio que hoje abriga a COART tem uma trajetória única. Antes de se tornar espaço cultural, funcionava ali o Departamento de Alunos, criado nos anos 1980, que oferecia poucas atividades e foi considerado anacrônico para o contexto de redemocratização do país. Documentos da época já apontavam os problemas estruturais e a necessidade de dar um novo destino ao espaço. Foi em 1994 que a COART passou a ocupar o local, inaugurando um novo capítulo: o da arte e da cultura como parte fundamental da vida universitária.
O protagonismo feminino na história da COART
Uma das marcas mais significativas desses 30 anos é o fato de que a coordenação sempre esteve nas mãos de mulheres. A professora e pesquisadora Mônica Bolsoni, ex-coordenadora e hoje doutoranda em Educação, vem reunindo relatos e documentos para reconstruir essa memória.
“Cada coordenadora deixou sua marca. Algumas criaram projetos, outras reestruturaram o espaço, mas todas tiveram de lidar com desafios imensos. Esse lugar só existe porque mulheres insistiram em mantê-lo vivo”, afirma Bolsoni.
Sua pesquisa revela não apenas o esforço contínuo de gestoras, bolsistas e professoras, mas também a ausência de reconhecimento formal da COART na estrutura da universidade. “É um Centro Cultural de fato, mas que a Uerj nunca oficializou plenamente. A legitimidade veio da prática e da dedicação de quem passou por aqui”, completa.

Apresentação dos textos dos bolsistas durante o evento (Foto: Equipe COART)
Se a história da COART é feita de conquistas, também é atravessada por períodos de crise. Durante os anos de greve e cortes orçamentários que marcaram a Uerj, o centro cultural enfrentou a falta de recursos básicos. Ainda assim, as atividades não pararam. Oficinas foram mantidas, exposições inauguradas e shows realizados.
Pontes entre universidade e a comunidade externa
A COART é, desde sua fundação, um espaço de encontro entre a Uerj e a cidade. Suas oficinas, mostras e eventos atraem não apenas estudantes e servidores, mas também moradores do entorno do campus. Essa proximidade com a população cumpre um papel social estratégico: democratizar o acesso à cultura e mostrar que a universidade pública é de todos.
Em entrevista, a atual coordenadora Ilana Linhales destacou esse caráter integrador: “A COART é essencial porque representa a dimensão mais humana da universidade. É aqui que a arte e a extensão se encontram, transformando vidas dentro e fora da Uerj.”
As celebrações dos 30 anos da COART têm sido também um momento de olhar para trás e refletir sobre o futuro. A publicação da Revista COmART, com textos de bolsistas e servidores resume parte dessa trajetória e dá visibilidade ao trabalho desenvolvido. Para muitos, o desafio agora é garantir que esse espaço conquiste o reconhecimento institucional que sempre lhe faltou.
O lançamento da Revista COmART foi o ponto alto das celebrações. Um evento em que a coordenadora Ilana fez questão de que fosse “mais afetivo do que formal”. Em sua fala, Ilana ressaltou a importância de o trabalho da COART ser reconhecido por parceiros e colaboradores, destacando a presença de autoridades como o diretor do Centro de Educação e Humanidades, o prefeito e os superintendentes.
A emoção do momento foi traduzida pelas falas “potentes” dos bolsistas, que apresentaram seus artigos, e do orientador Rafael Éis, que encheram a coordenadora de orgulho e deram a “certeza de que essa revista é essencial”. O evento culminou em uma festa descontraída, com coquetel e uma playlist nostálgica, reforçando a atmosfera de celebração e união que a COART tanto valoriza. Como disse a própria Ilana, “valeu muito a pena ter esperado um ano para comemorar os 30 anos da COART”.
“Sonho com o dia em que a COART seja formalmente reconhecida como Centro Cultural da Uerj. Mais que isso: que esteja aberta regularmente à população, que tenha sua história registrada nas paredes e que seja vista como um espaço estratégico de extensão universitária”, projeta Bolsoni.
Um marco para a Uerj e para o Rio
Ao completar três décadas, a COART reafirma seu papel como coração cultural da Uerj. Um espaço que resiste às dificuldades, se reinventa a cada gestão e segue pulsando ao ritmo da arte, da memória e da luta por reconhecimento.
Mais do que celebrar o passado, os 30 anos da COART são um convite para pensar o futuro da cultura universitária e sua importância para a cidade do Rio de Janeiro. Porque, como lembram aqueles que fazem parte dessa história, “a Uerj não é só ensino e pesquisa – é também cultura, e a COART é a prova viva disso”, finalizou Ilana durante sua entrevista.

Abraço em grupo de parte da equipe da COART (Foto: Equipe COART)