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Semana Na COART: Unindo Ciências e Cultura

Por Samira Santos

Durante o final de outubro e todo o mês de novembro, a Uerj tornou-se palco de um intenso movimento cultural e científico, acolhendo eventos que celebram a ciência oceânica e a cultura afro-brasileira. A 34ª Semana Nacional de Oceanografia (SNO) e o Mês da Consciência Negra são exemplos de uma agenda integrada, onde saberes se entrelaçam para promover diálogo e inovação. 

Semana Nacional de Oceanografia: Ciência para Todos

A 34ª edição da Semana Nacional de Oceanografia é um evento marcante, coordenado por alunos de oceanografia e oceanologia de todo o Brasil. Com atividades acadêmico-científicas que incluem palestras, mesas redondas, apresentações de pesquisas, saídas de campo e minicursos, o evento promove um olhar multidisciplinar sobre os oceanos. Este ano, a Semana contou ainda com uma exposição no Corredor Cultural da COART, nos dias 29 e 30 de outubro, que apresentou projetos e pesquisas sobre o ambiente marinho, facilitando a interação entre a comunidade científica e o público externo.

A SNO de 2024 traz uma novidade: sua integração com o Simpós Oceano, evento promovido pelo Programa de Pós-graduação em Oceanografia da UERJ. O SimPós Oceano surgiu em 2021, no formato virtual, para manter viva a discussão sobre as ciências marinhas durante a pandemia, e teve sua primeira edição presencial em 2023. Este ano, ao se unir à Semana Nacional, o SimPós intensifica o intercâmbio entre graduação e pós-graduação, fortalecendo as conexões entre diferentes centros de pesquisa e áreas do conhecimento. Raíssa Remesar, estudante de biologia que participa da SNO, fala sobre sua experiência: “A biologia é limitada em biologia marinha, então eu acabo buscando na oceanografia. Está sendo super interessante, estou aqui com o meu laboratório, o MAQUA, e estou amando as palestras.”

Exposição do laboratório MAQUA. (Foto: Coart)

No âmbito da biologia marinha, Raíssa atua na área de bioacústica, onde estuda os sinais sonoros emitidos por cetáceos, como o boto cinza e a toninha. “Esses animais emitem sinais para perceber o ambiente ao redor, evitando obstáculos e capturando presas. É uma troca muito importante para a educação ambiental, já que as pessoas de fora acabam se interessando pelo tema e participando,” compartilha. Essa área de pesquisa revela o quanto a comunicação marinha é um campo fascinante e crucial para entender a vida nos oceanos e a importância de preservá-los.

Raíssa apresentando o estande da MAQUA. (Foto: Samira Santos)

Cultura e Ciência no Corredor da COART: Jazz na Coart

Complementando a SNO, o Jazz na Coart, ocorrido em 20 de outubro, reuniu músicos como Rafael Camacho (guitarrista), Estevão Siffert (percussionista), Tadeu Teixeira (baixista) e Marcelo Liuzzi (saxofonista), servidores da Uerj. O repertório incluiu composições de renomados artistas brasileiros, como João Donato e Baden Powell, mesclando ritmos que transitam por toda a América Latina. Segundo Camacho, o projeto surgiu de encontros entre ele, Estevão e Tadeu, e finalmente encontrou sua forma ao ser realizado ao vivo. “Queremos ocupar esse espaço com música instrumental, que muitas vezes não recebe o destaque que merece”, explica o músico.

Para Marcelo Liuzzi, a música transcende o entretenimento e assume um papel de expressão cultural e pessoal. “A improvisação permite que cada um de nós se expresse, criando algo único no momento.” A apresentação foi uma amostra do impacto cultural que esses projetos trazem ao ambiente universitário, oferecendo ao público uma experiência de musicalidade rica e diversificada.


Evento Jazz na Coart (Foto: Coart)

Consciência e Ancestralidade

A partir do mês de novembro, a Coart celebra o Mês da Consciência Negra. Com uma programação extensa que começou no dia 1º de novembro, o evento buscou fortalecer o protagonismo negro na cultura e na história brasileira. A abertura foi marcada pela exposição “Jogo de Dentro” e uma roda de capoeira, organizada em parceria com o grupo NGOMA Capoeira Angola. Segundo Rafa Éis, um dos organizadores da exposição, a escolha do título “Jogo de Dentro” simboliza tanto o estilo de capoeira de movimentos mais próximos ao chão quanto a busca pela transformação interna e pela resistência cultural.

Essa exposição, que ficará disponível até 15 de janeiro de 2025, reúne trabalhos de artistas que também são capoeiristas, como Marina Alves, Andréa Hygino, Jeff Lewis e o próprio Rafa Éis. Marina, por exemplo, apresenta uma fotografia inspirada em sua vivência como fotógrafa e educadora. Jeff Lewis traz esculturas de orixás, enquanto Rafa expõe desenhos que exploram a capoeira. Andréa, professora e artista, exibe um vídeo que une o treino de capoeira a elementos escolares, gravado por Marina.

Além da exposição, o evento terá rodas de conversa, exibição de filmes, apresentações teatrais, musicais e de dança,  que ressaltam a importância da ancestralidade afro-brasileira. Em 22 de novembro, uma programação especial contará com a exibição de filmes vinculados ao legado do mestre Nego Bispo, referência no movimento quilombola. Rafa Éis destaca que a exposição visa exaltar a força e a dignidade do povo preto: “Essas práticas culturais surgem da necessidade de preservar a dignidade frente a um país com um passado colonial.”

Evento Jogo de Dentro. (Foto: Coart)

Uma Programação para Todos

A COART preparou uma agenda diversificada e gratuita para o Mês da Consciência Negra e sobre a programação, Rafa Éis comenta que as atividades são voltadas ao protagonismo da cultura preta, mas sem o enfoque exclusivo nas questões de opressão e violência: “Optamos por destacar práticas que mantêm viva a dignidade e a ancestralidade afro-brasileira, explorando como essas expressões culturais permanecem e se reinventam.”

Para a Uerj, esses eventos representam mais do que apenas uma oportunidade de integração entre alunos e a comunidade. Eles são uma celebração da ciência e da cultura como vetores de transformação social, promovendo um espaço onde a troca de saberes e experiências enriquece tanto o universo acadêmico quanto o cultural. Seja através dos estudos de bioacústica, do som envolvente do jazz, ou das tradições afro-brasileiras que ecoam nas rodas de capoeira. Por fim, a importância desses eventos vai além do campus, pois desperta na comunidade o interesse pelas ciências marinhas, pela música e pela cultura afro-brasileira, abrindo caminho para um futuro onde essas vozes e saberes estejam cada vez mais presentes. Que a SNO e os eventos do Mês da Consciência Negra sigam firmes em seu propósito de transformar e educar.

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