A exposição “O paraíso fica em São Gonçalo?” estreou na Galeria da Faculdade de Formação de Professores (FFP), no Campus São Gonçalo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no dia 25 de setembro de 2025.
Com curadoria de Agrippina R. Manhattan e Giovanna Giffoni, a mostra traz obras da artista Agrippina para repensar cartografias hegemônicas. Conforme pontuado no texto curatorial, a mostra coloca-se como “uma missão artística que tenha São Gonçalo como um meridiano cortando o mundo (da arte, da academia, da ciência etc.) no meio. Um porto estratégico de onde partem, mas aonde também precisam retornar em segurança, artistas, cientistas, atletas e toda uma classe trabalhadora desgastada por tanto deslocamento. Que a Galeria da Faculdade de Formação de Professores da UERJ seja um porto seguro nesse percurso tão singular e potente dessa jovem artista.”
Texto curatorial
Entre um ponto e outro, o Paraíso. Entre o Patronato e o Porto da Madama.
Recife fica noutra ponta, quase uma volta de 180 nos pontos cardeais.
Nas catedrais não ouvimos cantos sobre os cantos de cá (ou de lá). E mesmo de lá, ela conta sobre aqui.
O paraíso gonçalense profetizado por Agrippina (Jezebel dos dias de hoje), está logo ali do lado e suas obras estão aqui em algum ponto do Patronato.
A América Latina é uma ficção branca, a América Latina é um fetiche europeu. É que no norte, na mente da visão europeia, a América Latina é o Sul e o Sul não é nada além de um corpo.
Um corpo mutante e mutável como o dos Minotauros e das Sereias, que docemente atraem aos labirintos, que velam furiosos pelo mar aberto.
É que o corpo está sempre em movimento e, conforme realiza seus movimentos tão disformes, se ausenta dos limites impostos pelo eu. Nessa andança, nessa jornada em busca da ilha desconhecida… o caminho é só uma palavra que não sou mais eu.
O caminho são constantes cheganças e partidas (do Paraíso a Recife); são constantes errâncias que tornam o enigma quase indecifrável.
A exposição O paraíso fica em São Gonçalo?, da artista Agrippina R. Manhattan, gonçalense radicada em Recife, é uma redemarcação e uma retomada de território, um retraço nas cartografias hegemônicas. Um desvio nas rotas circumnavegantes e estamos de volta a São Gonçalo, inteiras e pelas tampas, impacientes de um devir que venha por outras vias, que busque o desvio na desobediência anticolonial e anti-institucional. Um anticatecismo bem didático, celebrando uma missa negra indígena trans periférica.
Uma missão artística que tenha São Gonçalo como um meridiano cortando o mundo (da arte, da academia, da ciência etc.) no meio. Um porto estratégico de onde partem, mas aonde também precisam retornar em segurança, artistas, cientistas, atletas e toda uma classe trabalhadora desgastada por tanto deslocamento. Que a Galeria da Faculdade de Formação de Professores da UERJ seja um porto seguro nesse percurso tão singular e potente dessa jovem artista.
Giovanna Giffoni
INFORMAÇÕES
📆 Visitação: 25/09/2025 até 26/10/2025
📍 Local: Galeria da FFP, no Campus São Gonçalo da Uerj
📍 Endereço: Rua Francisco Portela, 1470, Patronato, São Gonçalo
