Ascensão de vozes artísticas
Por Samira Santos
O Sextou, agora renomeado para Esquenta na COART, surge como um espaço vibrante para os artistas independentes. Semanalmente, às sextas-feiras, entre 18h e 20h, o salão 2 da COART se transforma em um palco para talentos, oferecendo ao público uma experiência de happy hour descontraída. A iniciativa, visa democratizar o acesso à cultura e fomentar a produção artística local, já teve algumas edições marcantes, a primeira com o CharmeBXD e a segunda com o Veludo da Mariposa, revelando o potencial do cenário independente carioca.
A mudança de nome de Sextou para Esquenta reflete não apenas uma atualização, mas uma evolução na proposta do evento. Se antes a ênfase estava no encerramento da semana com um clima de descontração, agora o Esquenta abraça a ideia de ser o prelúdio, a ignição para o fim de semana, um espaço onde a arte pulsa e prepara o espírito para o que virá. Com a promessa de uma programação variada que inclui slams, comédia stand-up, performances, duelos de rima, ilusionismo, apresentações solo e muito mais, o Esquenta solidifica seu papel como um evento cultural dinâmico e inclusivo.
CharmeBXD: A batida da baixada
A primeira edição do Esquenta, em 11 de abril, foi um verdadeiro deleite para os amantes do charme com a apresentação do CharmeBXD. Criado em 2024 por Eduardo Roxo, Junior Santos e Lucas Martins, o grupo nasceu da necessidade de suprir a carência de eventos de charme na Baixada Fluminense. “A ideia surgiu a partir da carência de rolés desse tipo aqui na área, o que faz a rapaziada sempre se deslocar pro município do RJ”, explica Lucas Martins. A formação do trio na Escola Popular de Artes (EPA) da UFRRJ foi crucial para o desenvolvimento do projeto. “A EPA é tudo pra nós. Se não fosse o curso ministrado pelo DJ Java, o CharmeBXD não existiria”, afirma Lucas. Junior Santos complementa: “Graças a EPA, somos o CharmeBXD hoje. Nós três nos formamos no Curso de Sonorização e Discotecagem com o DJ Java, devemos tudo a eles.”
O maior desafio, segundo os integrantes, é a questão financeira. “Grana. Sem dúvidas. Se a gente tivesse dinheiro pra financiar nossas ideias, seria tudo mais fácil”, desabafa Lucas. Eduardo Roxo concorda: “O maior desafio é a captação de recursos para fazer o evento acontecer, muitas das vezes os recursos oferecidos são bem abaixo.” No entanto, a paixão pelo charme e o compromisso com a cultura periférica impulsionam o grupo.

CharmeBXD junto com Bryan Pinheiro ensinando a dançar (Foto: Equipe COART)
A presença do CharmeBXD no ambiente universitário levanta questões importantes sobre o papel da academia na difusão da cultura. Para Junior Santos, “é importantíssimo que a cultura popular e de rua ocupe espaços como a academia. Espaços esses que são nossos também.” Eduardo Roxo completa: “O baile charme ele surge na periferia e a faculdade ela tem que ser um espaço ocupado pela periferia, esse movimento de levar o charme para universidade pública, é um movimento de ocupação de um espaço que é nosso por direito e que por muita das vezes nos é segregado.”
O grupo também se destaca por ser uma plataforma para novos talentos. “Sem ser muito presunçoso, mas o CharmeBXD tem aberto portas pra muitos artistas da Baixada que estão começando suas carreiras”, orgulha-se Lucas. Junior Santos adiciona: “O CharmeBXD busca sempre trazer artistas que, assim como nós, são da baixada e estão começando.”
A criação das coreografias é um processo colaborativo, com a preocupação de refletir a identidade local. Lucas Martins explica: “A identidade local é refletida quando a gente tem a preocupação de criar passos em cima de músicas de artistas que são crias de onde somos crias.” Junior Santos menciona a parceria com o coreógrafo Will King, que “dá nossas oficinas de Charme no nosso baile, escolhemos as músicas que vemos potencial e ele monta.”
As inspirações do CharmeBXD vêm de ícones do charme. “Sem sombra de dúvidas, o viaduto de Madureira é nossa referência máxima”, destaca Lucas. Eduardo Roxo também menciona o mestre Corello e seu tio Tuca, um DJ de charme da periferia.
A recepção do público universitário tem sido calorosa. “O público, de modo geral, abraçou a nossa ideia de cara, pra nossa surpresa”, afirma Lucas. No Esquenta da COART, a adesão foi crescente: “a primeira vez não atraiu tanta gente, mas quem colou dançou até o final e na segunda já ficou bem mais cheio, o que deixa a gente extremamente feliz”, celebra Lucas.
Para o futuro, o CharmeBXD sonha alto. “Nosso sonho é fazer um festival, contratar artistas da Baixada, ter uma estrutura profissional e botar geral pra dançar na rua”, revela Lucas. Além disso, o objetivo é “levar nosso trabalho pra fora dos muros da Baixada, que é algo bem difícil e quem vem dos lados de cá sabe bem como é.”
Veludo da Mariposa: Poesia e música que toca a alma
O segundo evento do Esquenta, em 25 de abril, trouxe para a COART uma atmosfera de introspecção e beleza com o duo Veludo da Mariposa. Formado pela cantora Panmella de Jesus e pelo pianista Walber Assis, o projeto se destaca por suas composições autorais que abordam os sentimentos mais profundos.
Panmella de Jesus, uma artista multifacetada, descreve a origem do nome do duo: “O Veludo da Mariposa, ele surge antes da gente. Ele surgiu quando eu via mariposas onde eu morava. E comecei a escrever relatos ao mesmo tempo.” A sugestão de uma professora de canto transformou “relatos de uma mariposa” em “Veludo da Mariposa”. A parceria com Walber Assis se concretizou de forma inusitada. “Eu botei um anúncio no Facebook em 2019, dizendo que eu estava procurando um pianista”, conta Panmella. Walber, que já a conhecia de outros projetos, viu o anúncio e se juntou à ideia.

Apresentação da Veludo da Mariposa (Foto: Equipe COART)
O desafio de trabalhar durante a pandemia foi superado pela conexão e o apoio mútuo. “Eu acho que foi um elo nosso de amizade. Eu acho que a gente se apoiou”, reflete Panmella. A criação de músicas tornou-se uma válvula de escape e uma forma de sobrevivência. “Foi terapêutico. Eu não tinha outras coisas para fazer. Então acabava que eu ficava fuçando letras antigas. Ele fuçava coisas dele antigas. E a gente ficava musicando”, lembra Panmella. A primeira música do duo, inclusive, reflete esse período, abordando crises e ansiedade, com a mensagem de “encarar um dia de cada vez”.
A ligação do Veludo da Mariposa com a COART começou através da Plataforma Livre. Panmella, que já havia sido aluna de cursos online da COART, viu o anúncio da plataforma no Instagram e decidiu enviar o EP do duo. “E na hora eu vi ali o formulário e falei, cara, é isso, vou mandar o EP.”, relata. A partir daí, o EP começou a ser divulgado na COART, abrindo portas para apresentações ao vivo.
Tocar na COART e interagir com o público universitário é uma experiência gratificante para o duo. “A gente se sente à vontade aqui já”, afirma Panmella. A oportunidade de se apresentar para um público jovem e engajado, que busca conteúdo cultural e artístico, é uma grande motivação. “Você vai tocar para uma galera nova, uma galera que está buscando conteúdo cultural, conteúdo artístico, musical e tal, então vai ter uma troca”, explica Walber.
A apresentação na COART foi um momento especial para Panmella. “Gosto muito de cantar, independente do local. Gosto muito de cantar, independente do público”, ela compartilha. A emoção e a entrega no palco são notáveis, e a recepção do público foi muito positiva. “Foi muito legal, foi muito especial. Muito obrigada, gente”, agradece Panmella.
O Esquenta da COART
O Esquenta da COART se estabelece como um catalisador para os artistas independentes, oferecendo um palco valioso como foi para o CharmeBXD e o Veludo da Mariposa. A iniciativa não só promove o talento local, mas também fortalece a conexão entre a universidade e a comunidade, evidenciando o papel fundamental da academia na valorização e difusão das culturas periféricas.
Qual artista independente você gostaria de ver se apresentando no Esquenta da COART?