Por Samira Santos
A COART se consolida mais uma vez como um Centro Cultural de destaque, anunciando a realização da MUT, Mostra Uerj de Teatro. O evento, marcado para acontecer entre os dias 8 e 10 de outubro, tem como missão principal abrir o palco do Teatro Odylo Costa, filho para espetáculos que nascem nos ambientes de ensino e formação teatral no Rio de Janeiro, sejam eles universitários ou escolas técnicas.

Ilustração de uma peça de teatro (Foto: Freepik)
Realizada pela COART em parceria com a Divisão de Teatro da Uerj, a MUT não se limitará apenas à exposição de obras. A proposta é criar um espaço de reflexão, já que todas as apresentações serão seguidas de mesas de diálogo abertas ao público, com a presença das produções e de um(a) mediador(a), para debater o processo de construção das obras.
O Propósito da MUT
A ideia de criar uma mostra voltada especificamente para a produção de ambientes de ensino surgiu de uma conversa entre, Filipe Codeço, orientador da área de artes cênicas e, Ilana Linhales, coordenadora da COART, que tinha o desejo de realizar um festival na Uerj. Codeço viu como um ponto de grande interesse o fato de que esses espetáculos fossem gerados em escolas e universidades. “Há uma grande produção também gerada em ambiente universitário e também nessas escolas, que são a base, por exemplo, da formação de grandes grupos,” explica Codeço. Ele ressalta que a maior parte dos grupos formados no Brasil sai de universidades ou escolas, como a Martins Pena.
O intuito da COART é claro: contribuir com a pesquisa e o fazer teatral, oferecendo às produções em formação profissional mais oportunidades de estarem diante do público, mais possibilidades de troca com diferentes plateias e um maior compartilhamento de seus processos e experiências. Codeço enfatiza a importância de as apresentações serem seguidas de uma conversa sobre o processo de construção, para gerar um “espaço de reflexão e não só um espaço de exposição das obras”.
Inicialmente pensada apenas para o município do Rio de Janeiro, a Mostra ampliou seu escopo para todo o estado, reconhecendo o papel da Uerj como universidade estadual e buscando abarcar propostas de outras cidades. Os três espetáculos selecionados desta edição representam a diversidade da produção cênica no Rio de Janeiro. Da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena (ETETMP/FAETEC), o público verá Apocalipse 1,11 – Brasil em vertigem, uma adaptação livre inspirada na obra do Teatro da Vertigem, que expõe o colapso moral, social e político do Brasil contemporâneo através de símbolos e visões do Livro do Apocalipse. Já da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vêm dois espetáculos. O primeiro, O Espectador condenado à morte, traz a obra de Matéi Visniec para um formato onde a quarta parede é quebrada e um espectador se torna o réu. A peça, ambientada em uma sala de julgamento, é estruturada no jogo cênico e na improvisação, abordando temas como alienação, resistência e pena de morte, com um elenco que coloca em cena debates sobre questões de gênero e raça no judiciário. O segundo, também da UFRJ, é RealitxiStár, um ousado reality-show teatral improvisado. Seis atores-improvisadores competem pelo título de RêalitxiStár, incorporando arquétipos inspirados em figuras icônicas de programas de auditório e reality-shows brasileiros.
A potência cultural da Uerj
A Uerj, segundo Codeço, possui uma estrutura privilegiada para abrigar o evento. “Não são todas as universidades que têm o aparato cultural como o que tem a Uerj”, afirma. Ele destaca que a Uerj possui o terceiro maior teatro do Rio de Janeiro, o Teatro Odylo Costa, filho, no Campus Maracanã. As apresentações ocorrerão de quarta a sexta-feira, às 19h, seguidas pelas mesas de diálogo.
O teatro como encontro
Ao ser questionado sobre o que é o teatro em sua vida, Codeço, que começou a fazer teatro aos 14 anos, reflete sobre sua trajetória completamente vinculada à arte. Para ele, o teatro está na base de sua vida e de sua visão de mundo. No âmbito artístico, ele o define como a arte que absorve todas as outras, onde cinema, dança, música e escrita podem conviver.
Mais do que uma definição pessoal, Codeço defende o teatro como uma arte insubstituível diante da virtualização da vida e do avanço da Inteligência Artificial (IA). “O teatro é um encontro, a arte é um encontro entre dois corpos.” afirma. Ele acredita que, após a experiência da pandemia, onde os encontros foram suspensos, o teatro readquiriu uma nova significação, e que hoje os teatros estão “bem mais cheios do que estavam antes da pandemia”. A MUT surge, assim, como uma celebração e um reforço desse encontro físico e da reflexão, essenciais para a arte e a sociedade.