COART dá início ao semestre com novidades nas oficinas: novos módulos e estreia de “Diário de Artista”

Por Samira Santos

O segundo semestre de 2025 marca o retorno das oficinas da COART com uma programação que continua inovadora. Conhecidas por democratizar o acesso às práticas culturais dentro e fora da universidade, as oficinas da COART voltam a reunir estudantes, servidores, artistas e comunidade externa.

Além disso, uma nova oficina estreia no campo da literatura e da criação artística: “Diário de Artista: processos criativos e outras belezas cotidianas”, conduzida pelo orientador Caio Neves. Essa combinação entre a expansão dos módulos e a chegada de novas propostas reforça o papel da COART como um espaço vivo e dinâmico, onde a arte se reinventa a cada semestre.

Ensaio para mostra da COART da Dança Afro (Foto: George Magaraia)

As oficinas da COART se consolidaram, ao longo dos anos, como um importante ponto de encontro entre diferentes áreas artísticas. Elas não se restringem apenas ao ensino técnico, mas também incentivam a criação de vínculos, a troca de experiências e a valorização da pluralidade cultural dentro de um espaço de múltiplos saberes.

Ao longo de cada semestre, centenas de participantes transitam por linguagens como artes cênicas, artes visuais, música, literatura, cinema e dança. Para muitos, é o primeiro contato com uma prática artística; para outros, é a oportunidade de aprimorar conhecimentos já adquiridos.

Esse caráter múltiplo é um dos diferenciais do Centro Cultural: não se trata de uma formação rígida e acadêmica, mas de um espaço aberto, onde a arte pode ser vivida tanto como processo pedagógico quanto como experiência estética e política.

Apresentação de violão e canto na Mostra, COART! (Foto: Samira Santos)

Esse desdobramento em módulos acompanha a demanda do público, que ao longo dos anos vem pedindo continuidade para oficinas já consolidadas. Agora, o caminho está aberto para que iniciantes deem seus primeiros passos em um módulo 1, enquanto aqueles que já passaram pela experiência possam avançar no módulo 2.

Nas artes cênicas, por exemplo, a oficina de “ O Palhaço, a palhaça e o erro como bússola”, conduzida por Filipe Codeço, passa a contar com uma segunda etapa voltada ao aprofundamento da criação de cenas improvisadas. Já no campo do audiovisual, o mesmo orientador propõe no “Laboratório de Atuação para o Audiovisual” um segundo módulo focado na composição de personagens e no entendimento do mercado de trabalho.

Na música, oficinas como Violão e Linguagem Musical também se expandem, oferecendo aos alunos mais experientes a possibilidade de desenvolver arranjos em grupo, explorar repertórios coletivos e aprimorar conhecimentos teóricos. A oficina de Percussão Popular, conduzida pelo Mestre Riko, segue o mesmo caminho, trazendo uma etapa que amplia o domínio rítmico e técnico.

Já em artes visuais, oficinas como Desenho, Tópicos em Arte e Educação e Xilogravura chegam ao módulo 2 com práticas mais desafiadoras e propostas de pesquisa autoral. O mesmo acontece na dança, em que modalidades como Funk, Forró Contemporâneo, Dança Afro e Dança Oriental Árabe ganham novas etapas, garantindo que os participantes possam evoluir na prática corporal.

Lucas Xaxará apresentando a Percussão no salão 2 (Foto: Equipe COART) 

A estreia do “Diário de Artista”

Entre as novidades deste semestre, chama atenção a criação da oficina “Diário de Artista: processos criativos e outras belezas cotidianas”, orientada por Caio Neves. A proposta parte de uma pergunta fundamental: como sustentar uma prática artística em um mundo cada vez mais acelerado, competitivo e voltado à produtividade? A resposta, segundo Caio, é o Diário de Artista, uma ferramenta que ele utiliza em seu próprio processo criativo há mais de uma década.

“Eu faço caderninhos com o meu processo desde 2013. Já são 12 anos e eu tenho uns 40 cadernos em casa. Isso pra mim é muito importante”, afirma. Caio conta que a ideia para a oficina surgiu após duas alunas pediram para que ele compartilhasse sua prática. “Eu fiquei pensando, ‘pô, por que eu nunca fiz isso antes?’ Sentei um dia e desenhei o programa muito rápido, porque de alguma maneira isso tudo já estava na minha cabeça. Está muito ligado à minha prática mesmo”.

Durante os encontros, os participantes serão convidados a manter um caderno de experimentações, no qual poderão registrar pensamentos, desenhos, colagens, fragmentos de escrita e outras formas de expressão. Esse caderno funcionará como ferramenta para investigar subjetividades, guardar inspirações e cultivar um olhar mais atento ao processo criativo.

“O nosso foco não é exatamente a linguagem específica, mas muitos disparadores para te colocar em um processo criativo. É meio que vou compartilhar algumas coisas do meu processo criativo e as pessoas também vão compartilhar coisas dos seus processos, e a gente, junto, vai achando coisas. A gente vai trocando figurinhas sobre isso, eu aprendo com você, você aprende comigo”, explica o orientador.

Ao longo do percurso, o grupo será incentivado por exercícios práticos envolvendo diferentes linguagens, como caminhada, performance, colagem e escrita. A ideia é que o diário se torne um espaço de liberdade, onde cada pessoa possa construir um repertório estético próprio, sem a pressão de resultados imediatos. “O caderno é um espaço onde pode tudo. Você pode experimentar tudo e qualquer coisa, tudo e qualquer coisa mesmo, tanto em termos de forma quanto em termos de assunto. Porque a gente não tem ideia boa o tempo inteiro, mas tem ideia o tempo inteiro. O caderno é um espaço para você botar essas ideias para jogo e depois você filtra o que pode ou não ser interessante para virar um trabalho. O caderno pode ser, inclusive, um próprio trabalho também”, diz.

Mais do que ensinar técnicas, a oficina busca estimular um gesto de resistência: reservar um tempo para a arte em meio à correria da vida cotidiana.

O papel da COART na universidade e na cidade

A existência do módulo 2 em diversas oficinas e o lançamento do Diário de Artista reforçam uma tradição que a COART carrega desde sua fundação: a de ser um espaço de inovação, aberto a diferentes públicos e atento às transformações culturais e do dia a dia.

Por estar sediada em uma universidade pública, a COART desempenha também uma função social. Suas oficinas são frequentadas não apenas por estudantes da Uerj, mas também por moradores do entorno, artistas independentes, professores e curiosos de diversas idades. Essa abertura contribui para aproximar a universidade da sociedade e transformar a arte em uma ferramenta de inclusão e de diálogo.

Além disso, as oficinas não se limitam às salas de aula. Muitas vezes, as atividades culminam em apresentações, mostras, exposições e performances abertas ao público, tornando o campus da Uerj um espaço pulsante de criação e de cultura onde compartilhar esses saberes é um pilar fundamental.

No caso específico do Diário de Artista, a proposta deve dialogar com um público variado. “Eu acho que essa é uma oficina que dialoga muito com escritores, com pessoas que trabalham com artes visuais, com o pessoal da performance, mas eu acho que também com pessoas que não têm uma prática artística, ou que até gostariam de ter, mas não sabem por onde começar. A oficina é para todo mundo”, concluiu Caio.

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