COART com uma semana de dança, cinema, ancestralidade e som experimental

Por Samira Santos

Entre os dias 20 e 23 de maio, a COART viveu mais uma das semanas animadas do semestre. A programação transitou entre a dança, a delicadeza da poesia, as vozes dos povos originários e a energia vibrante da música.

Dançar como quem conversa: um espaço de troca, experimentação e presença

Na terça-feira, 20 de maio, os corredores da COART foram invadidos por passos animados, abraços apertados e muita energia. A aula aberta + prática de Forró Contemporâneo com o oficineiro Ian Pacheco reuniu estudantes, curiosos e dançarinos experientes em uma proposta inovadora que subverte os papéis tradicionais da dança a dois.

Ian explicou que o forró contemporâneo propõe uma condução compartilhada e uma escuta corporal atenta. Segundo ele, não se trata apenas de seguir ou conduzir, mas de construir conjuntamente cada movimento. Com mais de uma década de atuação internacional, ele traz uma perspectiva inclusiva e sensível sobre essa linguagem da dança.

Aulão de forró (Acervo pessoal do Ian Pacheco)

A atividade, dividida entre a Sala 4 e o Salão 1, foi cuidadosamente pensada para acolher o público com liberdade. Elisa Quintanilha, responsável pela área de dança da COART, conta como foi a construção do evento: “Queríamos criar uma vivência que se aproximasse de uma mostra, mas que também funcionasse como prática autônoma. A proposta surgiu ainda no início do semestre, quando o Ian estava com uma turma só. Depois, com duas turmas, o desafio ficou maior, mas seguimos”, diz Elisa.

Mais do que uma aula, o evento foi também um experimento de formato. “Pensamos um espaço que fosse, ao mesmo tempo, fechado e aberto. Um ambiente em que as pessoas pudessem circular entre a sala de aula e o externo, sentindo o calor da dança sem perder o conforto”, conta. Segundo Elisa, a participação superou as expectativas, com um público formado por integrantes das duas turmas e cerca de dez pessoas externas.

A proposta não apenas funcionou, como revelou novas possibilidades para eventos futuros: “Foi um formato que respeitou a subjetividade da oficina e, ao mesmo tempo, criou um contato orgânico com quem estava por perto. Gente que estava só almoçando acabou parando para ver, se aproximar, dançar.”, completa.

Cine Cartola apresenta “Poesia”: cinema como respiro

No dia seguinte, 21 de maio, foi a vez dos filmes ocuparem o Auditório Cartola. O Cine Cartola apresentou o filme sul-coreano “Poesia”, de Lee Chang-Dong, lançado em 2010. O longa, que acompanha a jornada de Mija, uma senhora que se matricula em um curso de poesia enquanto enfrenta um drama familiar doloroso, emocionou o público com sua narrativa delicada e poderosa.

Caio Neves, orientador de cinema da COART e curador da sessão, conta que a escolha do filme foi muito mais ligada à pertinência do que à estética: “Poesia me tocou pelo roteiro, pela forma como fala de uma mulher comum que encontra na arte uma forma de enxergar o mundo de outro jeito. Isso tem tudo a ver com a COART. Aqui circulam muitas pessoas que chegam sem nenhuma relação prévia com arte e, de repente, se descobrem escrevendo, atuando, dançando.”

Para Caio, a protagonista Mija poderia muito bem ser uma frequentadora de alguma das oficinas da própria COART. “A história dela é parecida com a de muita gente daqui. Por isso, quis trazer esse filme. Ele é quase um espelho do que acontece por aqui todos os dias.”

Quintal Cultural: Contos indígenas

A COART recebeu no dia 22 de maio uma edição especial do Quintal Cultural, com a apresentação de Contos de Aldeia, produção do Grupo MBAJ. O projeto, que integra o Programa Prodocência da UERJ e é coordenado pela professora Ilana Linhales, investiga e recria histórias musicais dos povos originários do Brasil. A partir dessas pesquisas, os integrantes — Yara Lanes, Guilherme Vaz, Davi Teixeira, Jessica Santos, Mariana Santos e Beatriz Veloso — transformaram narrativas tradicionais em contos performáticos, promovendo um encontro entre memória ancestral e criação artística. A apresentação aconteceu no Auditório Cartola, trazendo ao público uma experiência sensível e educativa sobre a diversidade cultural indígena.

Apresentação dos contos (Foto: Samira Santos)

Esquenta na COART: Estúdio Mobral

Fechando a semana, na sexta-feira, 23 de maio, o Salão 2 recebeu mais uma edição do Esquenta na COART, evento que vem se consolidando como vitrine para artistas independentes. Desta vez, quem comandou a noite foi o Estúdio Mobral, projeto audiovisual fundado por Leonardo Maciel, que mistura sonoridades dançantes com visuais etéreos.

Inspirado por nomes como Crumb e Beach House, o Estúdio Mobral propôs um show de 30 minutos que navegou entre o sonho e a intensidade. “A ideia é deixar os sentidos em suspensão, provocar o público de forma quase onírica”, explicou Leonardo, que vem da cena underground carioca.

O Esquenta — antigo Sextou — tem se mostrado um importante espaço de experimentação. Com apresentações de rap, charme, poesia, stand-up e música eletrônica, o evento reflete a diversidade da produção artística jovem. Segundo a organização, a mudança de nome não foi apenas estética, mas conceitual, com a ideia de que o Esquenta seja o início de algo, o ponto de partida de um fim de semana pulsante, e não só uma despedida da semana.

A semana intensa de atividades reafirma a vocação da COART como um espaço de encontros, experiências e transformações. Entre um passo de forró e um poema sul-coreano, entre um conto e um sintetizador experimental, o que se revela é a potência da arte como linguagem múltipla e viva.

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