Por Samira Santos
Entre os dias 18 a 27 de junho, a COART promoveu três eventos que movimentaram os espaços da Uerj e mostraram, mais uma vez, a força das expressões culturais no ambiente universitário.
Cine Cartola apresenta biografia de Pirosmani e encerra temporada com longa português
O Cine Cartola, tradicional mostra de cinema gratuita realizada às quartas-feiras no Auditório Cartola, trouxe dois filmes marcantes neste encerramento de semestre. No dia 18 de junho, foi exibido “Pirosmani” (1969), do georgiano Georgiy Shengelaya, uma cinebiografia do pintor autodidata Niko Pirosmanishvili (1863–1918), mais conhecido como Pirosmani. Vivendo à margem do mercado artístico e morto em extrema pobreza, o artista é celebrado no filme com uma estética que dialoga com o próprio estilo de suas obras, simples, simbólicas e profundamente humanas. A sessão provocou reflexões sobre o valor da arte fora dos circuitos tradicionais e os silêncios que cercam muitos artistas ao longo da história.

Cena do filme As Mil e Uma Noites – Volume 1, O Inquieto (Foto: Reprodução)
Já no dia 25, o projeto se despediu do público com a exibição do premiado “As Mil e Uma Noites – Volume 1, O Inquieto” (2015), do diretor português Miguel Gomes. Inspirado na estrutura narrativa dos contos de Sherazade, o longa entrelaça ficção e realidade para refletir sobre a crise econômica portuguesa entre 2013 e 2014. A fuga do próprio cineasta diante da impossibilidade de filmar se transforma numa metáfora do país em colapso e da arte como resistência.
Estamos Vivos: plano-sequência como metáfora da vida
Na quinta-feira, 26 de junho, o Quintal Cultural – Edição Cinema levou ao público o filme Estamos Vivos, com a presença do diretor Filipe Codeço e do protagonista Maksin Oliveira. Filmado em um único plano-sequência, o longa acompanha um momento-limite na vida de uma família a partir da perspectiva de uma criança autista. Com sua câmera, Maksin observa silenciosamente os desdobramentos de uma realidade crua, captada sem cortes como a vida.

Divulgação do evento no Instagram da COART (Foto: Reprodução)
A ausência de edição transforma o filme em uma experiência de imersão que desconcerta e emociona. A exibição foi seguida por um bate-papo com os realizadores, que discutiram o processo de construção do filme, os desafios da filmagem contínua e a importância de visibilizar outras formas de percepção do mundo, como a do autismo.
Esquenta: Drag Friday transforma COART em palco de glamour e diversidade
Fechando a semana com brilho, a Drag Friday aconteceu na sexta-feira, dia 27 de junho, e transformou o Salão 2 da COART em uma verdadeira passarela de expressão, empoderamento e arte. O evento foi idealizado pelo produtor Marcelo Assis em parceria com o ex-bolsista Caio Sant’ana, nasceu da vontade de promover entretenimento e humor, mas foi além: tornou-se uma noite de celebração da cultura drag em sua pluralidade.

Apresentação do show das Drags (Foto: Equipe COART)
“Foi absolutamente maravilhoso. O público estava engajado, a casa cheia, os artistas animados. A gente conseguiu montar um line-up com cinco drags muito diferentes entre si e isso foi o mais bonito: mostrar a diversidade dentro da própria arte drag”, contou Marcelo, que também foi o apresentador da noite.
As performances mesclaram dublagens, humor e muita presença de palco. Houve espaço para glamour, crítica e até suspense. A única ausência sentida foi de uma drag do estilo “bate cabelo”, o que, segundo Marcelo, será adicionado na próxima edição: “Já estamos nos movimentando para outra Drag Friday. Foi um sucesso e o público quer mais.”
Cultura como elo e potência
A programação da COART neste final de período reafirma o compromisso do espaço com uma cultura que acolhe, provoca e transforma. Do cinema soviético à performance drag, passando pelo plano-sequência visceral de um menino com uma câmera, a arte sempre toma conta da universidade.
Com entrada gratuita em todos os eventos, a COART segue sendo um dos corações pulsantes da Uerj e um lugar onde cada sessão, cada fala, cada brilho de maquiagem carrega o poder de transformar o cotidiano universitário em experiência coletiva de afeto, crítica e beleza.