Cine Cartola 2025: Uma imersão na vida de artista” através das lentes do cinema

Por Samira Santos

A COART reacende a tela do Cine Cartola para mais uma temporada cinematográfica. Às quartas-feiras, sempre às 16h, o Auditório Cartola se transforma em um espaço de reflexão, que propõe um mergulho profundo e sensível no universo da vida de artista. Em sua sessão inaugural em 2 de abril, a mostra Vida de Artista na COART exibiu a obra francesa “Os Amantes de Pont-Neuf” (1991), de Leos Carax. Durante 2h o filme levou o público às margens do Sena, em Paris, acompanhando a luta e o romance entre um malabarista sem-teto e uma pintora com perda progressiva da visão, em meio à marginalidade e à arte. A escolha do filme, feita pelo curador Caio Neves, busca introduzir a complexa existência e os desafios da vida artística contemporânea.

Filme Os Amantes de Pont-Neuf que foi exibido na COART (Foto: Reprodução)

Em entrevista, Caio Neves compartilha a motivação por trás do tema escolhido para este semestre. Após duas edições que exploraram recortes como – o cinema mudo em sua diversidade e o documentário brasileiro contemporâneo – a terceira edição do Cine Cartola direciona o olhar para um tema narrativo que ressoa com a própria essência da COART. “Como sobreviver enquanto artista em um contexto cada vez mais competitivo, utilitário e sedento por eficiência e resultados? Como pagar as contas fazendo o que se gosta e em condições dignas? Como cumprir as exigências da vida objetiva e reservar um espaço para a beleza em nosso cotidiano?”, questiona a apresentação da mostra.

Cine Cartola durante a exibição (Foto: Caio Neves)

Longe de oferecer respostas definitivas, a seleção de 12 filmes para 2025.1 propõe acompanhar as trajetórias de personagens que personificam a Vida de Artista em suas mais diversas formas e linguagens. Atores, poetas, cantores, pintores, malabaristas e cineastas protagonizam histórias de diferentes épocas e nacionalidades, oferecendo um panorama multifacetado das alegrias e apuros inerentes a quem se dedica à arte.

A ligação pessoal de Caio Neves com a temática também se mostra um motor importante para a curadoria. Sua formação na intersecção entre o cinema e a arte contemporânea, bem como a condução de oficinas que exploram essa relação, transparecem na escolha de filmes que, para além da narrativa, flertam com a estética. “Muitos dos meus trabalhos falam da relação entre cinema e arte, cinema experimental. Então filmes que transitem nesse universo me interessam também”, revela o curador.

Ao discorrer sobre a escolha de “Os Amantes de Pont-Neuf”, Neves destaca a beleza e a “perversidade” da história de amor entre os dois artistas marginalizados. A curiosidade em torno da reconstrução da icônica ponte parisiense em estúdio, devido a possíveis entraves de autorização, adiciona uma camada de fascínio à produção cinematográfica, que apesar do alto custo e do prejuízo de bilheteria, se consagra como uma obra narrativa e esteticamente singular.

Caio Neves demonstra entusiasmo particular com a exibição de “Vida Boêmia”, do diretor finlandês Aki Kaurismäki. O cineasta, conhecido por seu estilo melancólico e minimalista, desconstrói o melodrama tradicional ao apresentar personagens finlandeses vivendo em Paris, imersos no imaginário das vanguardas europeias do início do século XX, mas que não dominam a língua francesa. “Está todo mundo meio bobo em cena, está todo mundo meio perdido, porque eles falam francês no filme, mas nenhum deles sabe falar francês, e eu acho isso interessante cinematicamente”, comenta Neves, ressaltando a peculiaridade da narrativa sobre um pintor, um jornalista e um músico dividindo um apartamento e lutando para conciliar a arte com as necessidades da vida.

Filme A vida boêmia (Foto: Reprodução)

Questionado sobre possíveis direções para futuras curadorias, Caio Neves revela uma inclinação por recortes temáticos em detrimento dos puramente genéricos. Ideias como explorar a relação entre “cinema e psicodélicos”, abordando filmes que tangenciam a loucura, a psicodelia e a espiritualidade, demonstram o desejo de continuar a provocar o público com propostas cinematográficas que transcendam o entretenimento convencional.

Como exemplos de filmes que poderiam integrar uma futura mostra sobre essa temática, Neves cita o impactante “Enter the Void”, com sua narrativa em primeira pessoa que se transforma em uma jornada espiritual após a morte do protagonista, e o colombiano “O Abraço da Serpente”, que narra a busca de um viajante europeu por uma planta visionária na Amazônia, em uma jornada de expansão da consciência com um indígena.

Filme Abraço da Serpente (Foto: Reprodução)

Com a promessa de uma seleção de filmes instigantes e a curadoria atenta de Caio Neves, o Cine Cartola 2025 se configura como um espaço essencial para a apreciação do cinema como forma de arte e como ferramenta de reflexão sobre a própria condição do artista no mundo contemporâneo. As sessões, sempre às quartas-feiras, às 16h, no Auditório Cartola, convidam o público a embarcar nesta jornada cinematográfica pela Vida de Artista. A programação completa, com os títulos dos outros 12 filmes selecionados, pode ser conferida nas redes sociais e nos canais de comunicação da COART e não se esqueça de pegar suas horas complementares na administração após o filme. Prepare a pipoca e abra o seu olhar para as histórias que pulsam na tela do Cine Cartola.

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