Por Samira Santos
O Ânima de 2025 homenageou Lélia Gonzalez e reuniu, na Uerj, intelectuais e artistas para celebrar a trajetória e o pensamento da pioneira nos estudos sobre raça e gênero no Brasil. Com uma programação diversa, o evento destacou a importância da obra de Lélia Gonzalez, refletindo sobre a continuidade de sua luta em diferentes áreas do conhecimento e da arte.
A presença negra na academia
A mesa de abertura contou com a participação da professora Camila Souza, doutoranda na Uerj e integrante do projeto de extensão LetrasPretas. Camila enfatizou a necessidade de ampliar o reconhecimento de Lélia Gonzalez dentro da universidade:
“A Uerj precisa rever seu corpo docente, que ainda é majoritariamente branco. Isso afeta a forma como o conhecimento é produzido e ensinado. A Lélia já apontava a impossibilidade de separar raça, classe e gênero ao analisar o Brasil. No entanto, seu pensamento ainda não é plenamente incorporado aos currículos acadêmicos.”
O LetrasPretas, projeto de extensão do Instituto de Letras da Uerj, tem se dedicado a divulgar o trabalho de intelectuais negras e oferecer um espaço de acolhimento para alunas negras. Camila reforçou que iniciativas como essa são fundamentais para transformar o ambiente universitário.
Arte e Memória: A Exposição “Obìrin de Memórias”
Na Galeria da Passagem, a exposição Obìrin de Memórias, da artista Thais Ayomide, trouxe a interseção entre fotografia, dança e poesia para resgatar a memória ancestral negra. No dia de seu aniversário, Thais celebrou o momento:
“A Lélia sempre foi uma referência para mim. Meu trabalho dialoga com essa luta, com essa necessidade de reafirmação da identidade negra. Esse evento me faz ter fé nas universidades públicas.”
Thais dirige a companhia Memórias de uma Maré Cheia, que investiga os processos de resiliência do corpo negro por meio da memória de mães pretas. Sua exposição emocionou o público ao trazer imagens e performances que refletiam a continuidade da luta antirracista.
Um mural para a história
A artista visual J.lo Borges foi responsável por um dos momentos mais marcantes do evento: a criação de um mural em homenagem a Lélia Gonzalez. O grafite, que retrata Lélia sorrindo, com sua característica faixa no cabelo, simboliza resistência e alegria.
“Eu quis trazer cores quentes para transmitir aconchego e força. Fiquei emocionada porque gosto muito dos textos dela. Voltar a grafitar aqui, onde fiz um dos meus primeiros trabalhos, foi muito significativo.”
J.lo também relembrou a importância de Lélia Gonzalez em sua trajetória acadêmica, já que atualmente cursa mestrado em relações étnico-raciais.
O Ânima é um espaço de resistência
O evento Ânima 2025 reafirmou o papel da universidade como espaço de resistência e produção de pensamento crítico. Em um momento de desafios para as instituições públicas de ensino, a homenagem a Lélia Gonzalez é um lembrete constante que devemos valorizar nossa história, já que a própria foi estudante da Uerj.
A diversidade de atividades – desde debates acadêmicos até expressões artísticas – demonstrou a atualidade do pensamento de Lélia Gonzalez e a necessidade de continuar ecoando sua voz. Afinal, como bem pontuou Camila Souza:
“Lélia Gonzalez é mais do que uma referência histórica. Ela é um caminho para pensarmos o Brasil de forma mais verdadeira e comprometida com a transformação social.”