Arte e Resistência na COART

Por Samira Santos

Cine Cartola Apresenta Divinas Divas: A Força de uma Geração Pioneira

Na terça-feira, 22 de outubro, o Auditório Cartola, na COART, recebeu mais uma sessão do Cine Cartola, que semanalmente exibe filmes de relevância cultural. Desta vez, o público foi convidado a assistir ao documentário Divinas Divas, dirigido por Leandra Leal em 2016, que conta a trajetória das primeiras artistas travestis do Brasil.

Recorte de uma cena do filme (Foto: Caio Sant’ana)

O documentário apresenta histórias íntimas e emocionantes dessas artistas, que encontraram no Teatro Rival – dirigido por Américo Leal, avô da diretora – um refúgio para a expressão de sua arte e identidade. Segundo Caio Sant’ana, Bolsista Cultura da COART e espectador da sessão, assistir ao filme foi uma experiência única e comovente: “Meu padrinho Jorge é uma drag queen, e ver o documentário mostrando a realidade e a luta dessas artistas na época da ditadura me trouxe memórias de quando ele contava histórias de sua juventude. Ingênuo, mandei uma mensagem perguntando se ele conhecia o filme e, para minha surpresa, ele respondeu que conhecia todas [as artistas] e ainda me enviou uma foto antiga de um baile de carnaval.” A fala de Caio reflete o impacto emocional e histórico que Divinas Divas representa para aqueles que vivenciaram – direta ou indiretamente – a luta por aceitação e visibilidade.

II Encontro Corpo-Ambiente em Performance: Arte e Ativismo em Diálogo

Já entre os dias 22 e 25 de outubro, o II Encontro Corpo-Ambiente em Performance aconteceu na Uerj, promovendo um espaço de encontro entre arte, performance e reflexão crítica sobre o papel do corpo em relação ao meio ambiente. Esse evento, organizado pela Ateliê de Performance e pelo Programa de Pós-Graduação em artes visuais, é uma iniciativa de caráter bilíngue que visa discutir temas ligados à crítica latino-americana ao capitalismo, patriarcado e colonialismo, e à mercantilização de corpos e terras.

Performance Cartográficas em Cacos (Foto: Elisa Quintanilha)

A estudante Mariana Bege, bolsista na organização do evento, explica: “Este é um evento internacional, bilíngue e traz palestrantes indígenas e pesquisadores internacionais, o que aprofunda as discussões sobre os efeitos do colonialismo e do capitalismo no contexto dos colapsos climáticos atuais.” Mariana descreve a programação como abrangente e multifacetada, incluindo performances de artistas independentes e pesquisadores de várias partes do mundo, que exploram a relação entre corpo e ambiente em suas diversas expressões.

Entre as performances, destaca-se a obra Cartográficas em Cacos, da artista Isaura Tupiniquim, de João Pessoa, que se apresentou na quinta-feira, 24 de outubro, no Salão 1 da COART. A performance questiona o impacto da exploração e fragmentação das terras e corpos sob uma ótica indígena e decolonial, enfatizando a urgência de novos modos de habitar o mundo.

A Experiência do Público e a Relação Intrínseca entre Arte e Corpo

Mariana, que atua como fotógrafa e registradora do evento, relata a complexidade de assimilar completamente o conteúdo das performances devido ao grande volume de apresentações: “São várias performances, cada uma única em seu modo de explorar o corpo e o ambiente, e mesmo eu, que trabalho com arte, sinto a necessidade de um tempo para processar tudo que foi visto.”

Para ela, a relação entre arte e corpo é inseparável: “A gente faz arte com o corpo, seja estando em cena, seja em outras expressões artísticas. Essa ligação é intrínseca, porque somos nosso corpo, e a arte expressa isso de forma visceral.” A declaração de Mariana reflete a importância de eventos como II encontro corpo-ambiente em performance, que promove um espaço de trocas e provocações, questionando os limites entre corpo, arte e resistência cultural.

Arte e Diálogo: A Performance Poética de Festa Estranha

Na última quinta-feira, 24 de outubro, o auditório Cartola da COART foi palco de uma performance poética: Festa Estranha. Idealizado pelo artista Lucas Mattos, o evento trouxe ao público uma fusão única entre poesia e teatro, celebrando 15 anos de uma trajetória artística marcada pela experimentação e inovação.

Lucas Mattos, poeta e ator com vasta experiência, nos contou sobre a ideia central do espetáculo: “A Festa Estranha é uma performance poética que celebra minha jornada tanto no teatro quanto na poesia. São duas linguagens que sempre estiveram presentes na minha vida e, neste evento, elas se uniram de forma orgânica.” Mattos explicou que a performance foi composta por poemas de diferentes momentos da sua carreira, desde os mais antigos, presentes no seu primeiro livro, até poemas mais recentes que refletem seu momento atual. Além disso, a apresentação incluiu elementos cênicos que remetiam às suas vivências como ator.

Registro do evento Festa Estranha (Foto: Reprodução)

O evento foi muito mais do que um simples recital de poesias. Segundo o artista, foi um espetáculo onde os poemas foram ditos em cena, em um cenário construído especialmente para contar essa trajetória artística. Lucas Mattos reconheceu que o público teve um papel fundamental nesse tipo de apresentação. “Quando você publica um livro, muitas vezes não há uma resposta imediata do leitor. Já a performance foi um encontro. Existiu a relação do contato, do ouvir e do fazer na hora. Às vezes, o que aconteceu em cena deu certo, às vezes não. E isso foi o que tornou a experiência única”, refletiu o poeta.

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